Wednesday, June 20, 2007

Isto é um pátio nao se passa nada...

Mal sai a noticia de uma qualquer tempestade mais forte lá fora, diga-mos em Espanha ou na França, ou até mesmo nas nossas ilhas, saímos à rua e começamos logo a ouvir dizer bastas vezes, - Será que chega para cá?
Por isso, depois de tanto falar dos EUA, das suas crises, da China etc e tal, deve vir à cabeça de muitos essa mesma frase aplicada, está visto, às tempestades financeiras globais. Será que chega cá? Afinal sempre ouvimos dizer que quando a economia americana espirra, o mundo constipa-se. Mas debrucemo-nos um pouco sobre o velho continente para ver ao perto como vai evoluir isto por aqui.
Primeiro temos noticias péssimas vindas do nosso país irmao, ou vizinho como prefirirem. É que por lá o imobiliário também já rebentou, espelhando minuciosamente o que se passa nos EUA. Os espanhois conseguiram fazer pior que nós em termos de endividamento e subiram de 75% em 1995 para 133% no ano passado, nós "ainda" só vamos em 125%. O seu défice na balança de pagamentos é mais de 3 vezes o da França e no mundo apenas os EUA conseguiram fazer pior. A tendência dos juros a subir desenfreadamente não auguram nada de bom para o futuro. E aqui reside o fulcro dos próximos tempos para a união europeia, preve-se já a primeira grande crise sistémica na Europa do euro. Temos agora a Europa a 2 velocidades, talvez mesmo a 3 velocidades se isolarmos o crescimento dos países de leste. De um lado temos as fortes tendências de crescimento das economias alemã e holandesa, contra a tendencia inversa dos espanhois, portugueses, irlandeses, gregos, italianos e até mesmo franceses. Ora, tendo nós conhecimento que o Banco Central Europeu é um instrumento alemão, pouco eles se vão preocupar com as necessidades especificas dos países atrasados do Sul e hão-de continuar a subida incansável dos juros, agravando enormemente a situação dos endividados. É um problema que se costumava viver na politica agricola comum, termos um comissário finlandês a ordenar aos agricultores portugueses o que cultivar. Só que com dinheiro não se brinca e devia ser por isso que o premio nobel da economia, Milton Friedman, dizia que a banca central era demasiado importante para ser deixada aos banqueiros. Assim, antevê-se uma crise verdadeiramente incómoda no seio do nosso continente, talvez assim ajudando o dolar a flutuar mais uns tempos antes de ir ao fundo.
A juntar à festa temos a quase implosão do sistema monetário dos países do báltico, especialmente a Letónia onde a esfera de influência sempre foi a Russia, as moedas locais estão super-inflacionadas para se prepararem para o euro e temos assim cidades tão caras como as mais caras da Europa mas com salários de apenas 150€. O mercado negro é enorme e estes países tornaram-se quase estados satélite da máfia russa. E quando esta bolha rebentar veremos muitos empresários da zona euro completamente à nora quanto aos avultados investimentos feitos na "infalivel" bolha do báltico. E depois sim, será bom para investir, claro está, com a permissão dos mais respeitáveis mafiosos da região.
Assim, os tempos tambem nao vao ser faceis para todos nós, espera-se turbulencia para o euro embora com boas perspectivas no longo prazo. Ainda não é já que podemos rir na cara dos americanos, embora sabendo que eles estão muito piores que nós.

Tuesday, June 12, 2007

R.I.P.

Depois de muito tempo sem escrever, os escritos anteriores podiam ter deixado de fazer sentido nao fosse a realidade confirmar praticamente tudo o que se tem vindo a dizer. Mas o que me leva a voltar ao trabalho aqui no blog é o lançar de um novo grito de alerta para os tempos de mudança que temos andado a viver, mudanças de fundo no contexto geopolitico, economico e financeiro. De facto, urge perceber o que se passa para se entender o que se vai passar, pois os grandes ganhos vêm do entendimento dos sinais dos tempos antes dos tempos mudarem de vez. Assim, o mundo teimosamente insiste em seguir um caminho já antes trilhado, não vamos nós insistir tambem em só nos apercebermos disso quando já nada houver a ganhar com isso. Mas entao, comecemos...
Da já afamada crise financeira global que tanto se tem falado aqui neste blog, temos sinais de tal modo fortes dados nos ultimos 3 meses que não podia ter deixado passar em vao. Meus amigos, pela primeira vez desde a I Guerra Mundial os EUA perderam o estatuto de centro financeiro mundial. Os mercados financeiros no final de Março totalizavam 11760 bilioes de euros nos EUA e 11819 bilioes na Europa. Nos ultimos anos os mercados americanos cresceram 70% contra os 160% dos mercados europeus. Claro que a depreciação do dolar nao ajudou nada, mas esta tendencia verifica-se tambem nas trocas comerciais mundiais, onde já em 2005 os europeus representavam mais de 50% de todo o comercio externo da Russia, 65% da Argelia, 31% do Irao (seguido pelo Japao com 12%), 20% da Arabia Saudita (contra apenas 16% dos EUA), 30% do Kuwait (contra apenas 11% dos EUA) entre muitos outros. Note-se que os EUA detinham os primeiros lugares em todos estes mercados por larga margem de avanço. A China ultrapassou mesmo os EUA como o 1º importador na Uniao Europeia. Este ajustar de forças geopoliticas e economicas está a acontecer agora e a uma velocidade estonteante, levando os habituais players do mercado a não reagir pois estão imobilizados com teorias e tendencias que funcionaram durante quase um seculo e que agora começam a valer nada.
Temos de juntar a isto a grave crise imobiliária nos EUA, que tem funcionado como uma caixa multibanco para cada familia americana endividada até aos cabelos com emprestimos sobre a habitação na expectativa da subida de preço do imobiliario, que já todos agora percebem não vai acontecer. Algumas das maiores instituições financeiras americanas já estão a falir, a 2ª maior de todas, a New Century, foi a falencia mais badalada mas outras aconteceram e muitas mais se esperam acontecer. De facto o problema já é grave o suficiente para fazer manchete em todas as cadeias de media americanas, em programas como a Oprah e por todo o lado. Os unicos a não admitir o gravissimo problema (gravissimo porque tudo está baseado em consumo privado e sem dinheiro não há consumo, logo esta crise nao tem resoluçao à vista) sao os big players financeiros e a propria reserva federal americana, ambos com muito a perder caso o admitam publicamente.
O Fed não admite a depressão pois isto obriga-lo-ia a baixar as taxas de juro, depreciando ainda mais o dolar e fazendo a moeda americana colapsar ainda mais depressa do que se tem apregoado, os bigs das financeiras porque é nesta onda que têm surfado nas ultimas decadas e nao sabem surfar noutras, alem disso ainda há muito dinheiro a ganhar com todo o maralhal que ainda acredita nos conselhos destes tubaroes financeiros.
Com isto tudo vem o dizimar por completo da classe média americana empurrando-os para baixo e roubando-lhes as poupanças. Preocupante é tambem a analise do racio de rendimentos entre os 0,01% mais ricos e os 90% mais pobres que desde 1950 tem andado entre os 170 a 180 e que de repente saltou para os 880 em 2005, niveis apenas vistos nos meses anteriores à grande depressao de 1929 em que o numero era de 891. O problema dos americanos é que 1929 aconteceu num contexto de crescimento da influencia dos EUA no mundo e hoje acontece exactamente o oposto. Por isso, em vez de termos uma grande depressao teremos uma enorme depressao. Num exemplo recente do deliberado esmagamento da classe média americana, a segunda maior cadeia de electronica de consumo, a Circuit City Stores, despediu 3400 trabalhadores, 8,5% do seu pessoal de loja que ganhavam entre 10-11 dolares por hora para contratar o mesmo numero de trabalhadores a um preço de 8 dolares por hora. As novas contrataçoes deram-se na America e com americanos, ou seja a classe média perdeu membros que passaram para a classe baixa, e a classe baixa ganhou trabalho pago como classe baixa e ainda recebeu mais membros fruto do desemprego ocorrido na classe média, um autentico downgrading social.
Com toda esta crise as falencias pessoais aumentaram exponencialmente, os casos de incumprimento bancário também e cada vez mais pessoas estão a perder as suas casas tomadas pelos bancos credores. Nos EUA o intervalo de tempo entre o incumprimento bancário e a perda do imovel é em média de apenas 3 meses. Não tem havido novas compras de imobiliario, os impostos sobre o patrimonio e as transacções imobiliarias tem descido a pique bem como as receitas fiscais relacionadas com o consumo. Na California e na Florida as receitas fiscais diminuiram pela primeira vez em 30 anos. As receitas dos impostos sobre os lucros das empresas têm descido vertiginosamente tambem. Isto vai levar a mais endividamento publico a juntar ao já obsceno endividamento americano, levando a mais uma queda do dolar.
Depois temos os iranianos a afirmar que mais de 60% das suas exportações já são feitas em moeda totalmente independente do dólar. Claro, temos o Irão fora todos os outros países que já só querem distancia do dolar, até mesmo da China.
Mas se tudo isto nao bastasse, sao os proprios numeros estatisticos a darem-nos a dimensao do problema. De facto os EUA entraram em recessão técnica em Maio. Não de acordo com o seu PIB expresso em dolares, mas quando analisamos os mesmos dados mas com as contas feitas em Euros, Libras, Yenes ou Yuans, o resultado é o mesmo, a recessão técnica. Ou seja, para a America existe crescimento, para o resto do mundo existe recessão. É a magia dos numeros a funcionar.
Por isso meus amigos, esqueçam tudo o que leêm e ouvem nas noticias, e se estão à espera de um crash bolsista lembrem-se que a quando a bolsa crasha é porque tudo o resto já caiu tambem.
Os EUA já eram, a missa já foi lida mas o mundo inteiro ainda mantém a ideia contrária e toma decisoes com esta base, ajudando os grandes tubaroes a planearem a sua fuga e deixarem o menino nos braços da classe média cega por promessas de infalibilidade do sistema e incorruptabilidade do imperio americano. Conversa tal e qual a imposta nas vesperas de 1929.
Nunca nenhum imperio sobreviveu para sempre nem nenhuma moeda sobreviveu mais do que 100 anos sem colapsar.
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