Tuesday, March 13, 2007

Crédito, incidentes e gestores atrasados mentais

Quando começam a surgir em Portugal empresas de crédito especializadas em clientes com incidentes bancários, nos EUA, onde este conceito nasceu por volta de 1992, estas empresas começam agora a definhar e a falir arrastando consigo muito mais do que seria de esperar. A taxa de incumprimento dos clientes destas empresas anda na ordem dos 14%, levando os responsáveis até à beira de um ataque de nervos para simplesmente conseguirem sobreviver. Em Portugal, no entanto, o mercado dos incidentes bancários continua a crescer surdo aos avisos dos irmãos mais velhos americanos. Por cá são conhecidas as agressivas campanhas da GE Money, do banco Primus, até mesmo da Cofidis que se debatem por uma cada vez maior fatia do mercado de crédito, pois também existe um cada vez maior número de pessoas com incidentes na banca.
O problema é, no entanto, muito mais grave do que se imagina. Todas estes casos de incumprimento referem-se a empréstimos suportados pela habitação, com uma hipoteca, às vezes até mais do que uma. Como estas empresas se apresentam financeiramente débeis, sem suporte financeiro para aguentar muito tempo com estas taxas de incumprimento, a sua única solução é mesmo executar a hipoteca e colocar o imóvel no mercado para fazer dinheiro rápido. Isto obviamente acarreta graves problemas sociais e económicos, pois inúmeras pessoas estão agora em risco de perder as suas casas. Ora, colocar mais casas à venda num mercado já saturado de casas por vender e onde os preços estagnaram ou estão mesmo a descer será agravar a situação geral, forçando a um forte decréscimo no valor da habitação, colocando todos as outras hipotecas, mesmo as que estão a ser cumpridas em pior estado, pois o valor das casas deixa de ser suficiente para suportar o valor das dívidas.
Mais ainda, os consumidores deixarão de consumir de modo a pouparem dinheiro apenas para pagar as hipotecas e assim não perder o local onde vivem. Esta situação já acontece de momento com o índice de consumo a descer nos EUA em Fevereiro depois de um crescimento de 0% em Janeiro. E sem consumo não há economia que aguente.
Assim, podemos ver a gravidade da situação gerada apenas pela irresponsabilidade de quem dá crédito como se não houvesse amanhã e pela ignorância de quem consome crédito como se ele fosse de borla.
A ajudar à festa temos a constante subida das taxas de juro que ameaçam constantemente quem tem dívidas à banca. É uma realidade muito complicada e que poucos se apercebem da verdadeira dimensão, pode ser o início de uma das mais graves recessões a nível mundial, como alguns analistas já o afirmam.
Numa situação típica como esta a reacção da banca é aumentar as taxas de juro de modo a controlar o crédito e a disponibilidade de moeda, coisa que já está a ser feita pelos bancos centrais. De qualquer modo esta função está já a ser cumprida pelas medidas mais apertadas de concessão de crédito que a própria banca resolveu tomar à pressa, o que na prática, é o mesmo que afastar os clientes da banca e do crédito. Assim, só não temos uma escalada maior das taxas de juro porque a banca simplesmente já não é obrigada a dar crédito, fazendo caír por terra as alegações da própria banca sobre o seu importante papel na sociedade.
E quando a banca já não tem clientes a quem possa extraír dinheiro, nem saída para as casas que ocupou nas execuções das hipotecas, a única coisa que lhe resta fazer é virar-se para uma fonte de rendimento mais limpa, secreta e inesgotável: os nossos impostos. De facto, nos EUA criou-se agora uma comissão governamental com o objectivo de ajudar financeiramente as famílias em vias de perder as suas casas por via das suas dívidas. Decerto que poucos vão protestar contra uma medida tão "social" mas abre-se assim a porta ao aumento brutal dos impostos e ao ainda maior conluio entre banca e Estado, ficando todos nós a pagar pela irresponsabilidade de apenas alguns, referindo-me aqui aos gestores das empresas de crédito que resolveram afogar ainda mais as pessoas endividadas com crédito a taxas exorbitantes e sem qualquer controlo ou pedagogia apenas em busca de dinheiro fácil à custa de quem mais dele necessitava.
Assistimos assim a mais um episódio na fusão Estado-Banca, que agora está cada vez mais às claras.
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