Thursday, September 06, 2007

Aos bancos centrais ! Falta solvência, não liquidez...

Está sempre tudo na mesma enquanto tudo está sempre a mudar. Gente que vai e vem, tal qual as bolhas económicas.
Parece que os humanos chegaram onde chegaram fruto de milhões de anos de selecção natural. Fomos moldados pela circunstância do nosso ambiente, tal como as girafas e os camaleões foram moldados pelos ambientes deles... e pelo acaso.
Aqui no blog, observamos os humanos como botânicos observam flores. Vemo-los crescer e florescer e registamos as mudanças das suas vidas.
Às vezes são temerários e destemidos, às vezes até temem o vento que lhes sopra nos cabelos e resolvem enclausurar-se neles próprios.
É que as circunstâncias mudam, estão sempre a mudar e os humanos raramente ou nunca as acompanham com a mesma velocidade. As pessoas hoje são mais ou menos iguais às que tomaram a Bastilha, erigiram as pirâmides ou cruzaram o estreito de Bering vestidos com peles. Estão sempre a tentar conseguir muito por pouco, e ficam extremamente decepcionadas quando percebem ser impossível. É por isso que criam o seu próprio ciclo de tentação, falhanço e arrependimento, repetindo-o vezes sem conta desde o príncipio dos tempos até hoje de manhã.
O que é hoje diferente é que nunca se viu padrões económicos e financeiros repetidos a tão grande escala como agora. Nunca tanto dinheiro procurou tantos bens e serviços, nunca os bancos centrais tiveram tanto poder para distorcer o mercado, nunca as pessoas tiveram tantas possibilidades de se submergirem em dívidas, nunca os “capitalistas” puderam comprar tanta corda para se enforcarem, a crédito. E nunca tantas instituições vieram tão rapidamente em seu auxílio.
E estávamos já nós de bata vestida para assistirmos ao último suspiro, às últimas convulsões e espasmos quando os bancos centrais vieram cortar a corda, na América cortando as taxas, na Europa não aumentando as taxas, distribuíndo mais crédito e dinheiro a quem menos merece.
Mas como sempre achamos que se vai passar exactamente o mesmo neste ciclo que se passou sempre em todos os outros, quando o dinheiro é abundante e fácil, o homem usa-o estupidamente.
Cometem-se erros que gradualmente se acumulam até que as correcções se tornam inevitáveis. E aqueles que esperavam ter muito por nada, e que até pareciam estar a consegui-lo enquanto tudo funcionava bem, ficam à espera de ajuda e salvamento quando se vêem afinal sem nada.
E o salvamento chega, alivia as dores e um novo folego surge, o doutor chegou mesmo a tempo.
O mercado accionista americano atingiu um máximo a 19 de Julho, terá sido o máximo possível por causa da bolha de crédito norte-americana, ninguém sabe. Mas sabemos que as acções desceram pouco, menos de 10% dos máximos históricos. Um mês depois foi atingido um mínimo para esta crise e tem vindo a recuperar desde então.
- Tudo está bem, gritaram todos em uníssono.
Mas nada está bem na verdade. O problema basilar do mundo financeiro é que padece de um síndroma que a moderna medicina financeira não pode curar. Se tudo se resumisse a um simples problema de liquidez, os bancos centrais resolveriam o caso amanhã mesmo.
O problema não é a liquidez, é a insolvência, causada por demasiado crédito, não pela falta dele.
Pessoas, empresas, países, os devedores devem mais do que podem pagar. Pedir mais emprestado não resolve o problema apenas o adia, talvez mesmo o disfarce, mas nunca o resolverá.
Nada é mais destructivo para uma economia do que dinheiro fácil. Multiplica os erros mais comuns e aumenta os estragos causados.
A maior fonte de dinheiro fácil é o dólar. O Fed imprime dinheiro como se não houvesse amanhã e até já deixou de publicar o seu índice M3, que mede a totalidade do dinheiro em circulação, para ninguém se assustar. Mas existe ainda quem meça este valor em privado e chegue a conclusões que não devem ser lidas nas próximidades de objectos cortantes. De facto a massa monetária americana aumenta 13% ao ano, 4 vezes mais do que o PIB americano, e na Europa anda quase nos 10%.
E muito dinheiro para todos nunca é boa ideia.
Os jornais falam-nos agora que é a Venezuela a descobrir isto da pior maneira. O dinheiro fácil venezuelano veio do boom do petróleo e permitiu a Hugo Chavez dar asas aos seus delírios azuis derivados da sua admiração por Trotsky e Guevara. Por isso, agora os preços no consumidor sobem 16% ao ano e certos produtos são impossiveis de encontrar mesmo a qualquer preço. O bolívar, a moeda venezuelana cai mais de 30% ao ano e no mercado negro o decadente dólar ainda vale 4750 bolívares.
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