Friday, October 07, 2005

O colapso da economia mundial está à vista, Adam Smith Revisitado

Liberais e adeptos do comercio livre estão a ressuscitar Marx e a luta de classes sem disso darem conta.
Cegos pela torrente liberal e pelo seu ódio ao comunismo, esta gente está a chamar até si todos os grandes males do colectivismo ao mesmo tempo que promovem o inicio de uma luta de classes sem precedentes. Agarrados a teorias que todos conhecemos desde há 200 anos, teorias fundadas pelos pais da economia moderna Adam Smith e David Ricardo, não percebem que aquilo que tanto apregoam como benéfico lhes vai trazer a ruína a médio prazo e o colapso do sistema financeiro actual.
Estas teorias, baseadas na vantagem comparativa e competitiva entre nações, advogava que existem custos internos de produção diferentes para cada país e que isso tornava o país único, com vantagens em relação à produção de alguns produtos e defices em relação a outros. Assim, era mais fácil a Portugal produzir cortiça do que produzir tâmaras, ao passo que para Marrocos era exactamente o inverso. E assim cada país alocava os seus recursos escassos na produção do que melhor sabia fazer e prosperava no comércio livre entre as nações com produtos únicos baseados no seu clima ou geografia. De facto, produzir um item em excesso fazia descer o preço e deixar de ser interessante a produção do mesmo, logo o mercado era regulado pela lei da oferta e da procura, a mão invisível de Adam Smith.
E é nesta base de pensamento que os arautos do livre comércio vivem, argumentando que a curto prazo a globalização e o comércio sem restrições podem causar desiquilibrios mas que em breve o mercado se irá auto-regular. Dizem que cada país se irá especializar nalguns itens transaccionáveis e poderá então competir em larga escala. Isto intrinsecamente é bom pois os marroquinos recebem boas rolhas de cortiça portuguesa em troca das tamaras em excesso que produzem. Uma relação ganha-ganha.
Mas nada mais errado. E custa-me a perceber que ainda tão pouca gente o tenha percebido.
Hoje em dia, o capital é bem mais móvel que os bens que são transaccionados. A produção de qualquer produto é baseada no conhecimento adquirido e na forma produção de modo a ter os mais baixos custos possiveis. Assim, é possivel produzir qualquer coisa em qualquer lado, desde que haja matéria prima, e capital, financeiro e humano. Fica mais barato levar a cortiça de Portugal e molda-la na China do que executar todo o serviço no mesmo país. Quando uma fábrica de texteis fecha no Norte do país e, continuando portuguesa, se vai relocar na China, está a haver uma transferencia de tecnologia e saber fazer para os chineses, sem Portugal ganhar nada em troca. Criam-se 4 ou 5 empregos de topo para gestores portugueses muito bem pagos, e colocam-se no desemprego 100 ou 200 trabalhadores portugueses mais caros.
É uma relação ganha(China)-perde(Portugal). E isto está a acontecer por todo o mundo. Produzir tudo em qualquer lado onde os custos são menores. Uma relocação de uma fábrica portuguesa para a China não resulta do facto de uma firma chinesa ter uma vantagem competitiva em relação à portuguesa, mas uma firma portuguesa ganhar uma vantagem absoluta no trabalho mal pago chinês. Obviamente, onde se lê firma portuguesa se deve ler americana, alemã ou inglesa, por exemplo.
Os advogados do comércio livre esquecem-se que os recursos obtidos das trocas comerciais deve ser reinvestido dentro das fronteiras para funcionar como multiplicador do factor de vantagem comparativa, mas isso não acontece. O comercio livre deveria ser um fluxo de beneficio mutuo, mas neste caso o país de origem perde capital, investido e deslocado para a China, perde tecnologia, também deslocalizada para a China e o país receptor ganha. Será dificil entender?
E será também assim tão dificil de entender que o mesmo acontecerá com os recursos humanos?
O próprio trabalho técnico dentro das fronteiras dos países industrializados começa também ele a reger-se pelas mesmas regras. Custa o mesmo ou menos formar um engenheiro indiano ou chinês, mas custa muito menos mante-lo. Trabalham por menos dinheiro. Assim que a fabrica de texteis portuguesa se reloca para a China, também o seu departamento de Investigação e Desenvolvimento lhe seguirá. Usará então os recursos chineses mais baratos e com a mesma formação em deterimento dos portugueses, excepção para algumas profissões de topo.
Nos EUA, por exemplo, não é criado um novo emprego em tecnologias de informação desde o ano 2000. Em 600.000 vistos de entrada e trabalho para os EUA em Agosto de 2005, 39% eram para trabalhadores com profissões relacionadas com a tecnologia. Existe neste momento, ao invés do que é percebido, uma taxa de desemprego em profissionais das TI´s na ordem do 12%, bem acima da média nacional. Se 39% dos novos imigrantes com contrato de trabalho são para profissões relacionadas com tecnologias de informação e a taxa de desemprego entre profissionais da mesma area norte americanos é tão elevada, percebemos onde está o gato. As empresas contratam trabalhadores especializados por muito menos dinheiro, importando assim mão de obra.
Não há, de momento, novos empregos criados em sectores de alta produtividade. Os ultimos números indicam criação de empregos apenas em areas não transaccionaveis como serviços domésticos e de acompanhamento social, sectores pagos abaixo da média.
Para deitar alguma areia para os olhos do público norte americano, estimula-se a compra de produtos nacionais, esquecendo-se que as industrias norte americanas que permaneceram no seu território são meras unidades de assemblagem de peças feitas no estrangeiro, China, Taiwan ou coisa parecida. Estas unidades de mera montagem não necessitam de engenheiros ou cientistas.
É este o choque em que o mundo vai brevemente acordar. O facto de estarmos a caminho da terceiro-mundialização de toda a humanidade, de tornar o Homem como escravo dele próprio ao serviço de uma minuscula minoria governante, que acredita saber o que é melhor para cada um de nós.Temos a direita liberal a acreditar em teorias erradas e a fortalecer a esquerda e a esquerda sindicalista a fazer o frete às grandes multinacionais ao reduzir o jogo ao nós contra eles. Ambos, sem o saberem estão a ser manipulados para levarem o mundo a aceitar condições de trabalho sub-humanas, pois será essa a única alternativa para sobreviver. Vive-se hoje com certos dogmas inquestionáveis, principios de liberdade, fraternidade e igualdade sem nos apercebermos que é exactamente isso que é pretendido de nós. Mas isso ficará para a próxima.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Até que enfim, Merovech!
Estava a fazer falta um dos seus posts no mundo dos blogs.
O problema é que sabe demais em termos de teorias e perde-se um bocado em promenores.
Mas para nos perdermos em pormenores é que hoje servem as universidades que não sejam de elite.
Eles enxotam-nos com condições de vida desumanas e senão matam-nos com a gripe das aves:
o virus mais virulento da guerra biológica com os quais foram infectados os animais migrantes.
Leia o Oswald le Winter num livro editado pela Europa América chamado Democracia e Secretismo.
Reduz-se tudo a matar os proprietários para ficar com as terras ou a matéria prima.
Qualquer filme de cow-boys nos ensina isto.

8:40 PM  

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