Monday, November 08, 2004

A Europa e os Estados Unidos da Europa

Temos de momento a clara percepção de já não termos país. A nossa moeda, consequentemente a nossa política cambial e monetária, a nossa política interna, as nossas forças armadas, até as nossas fronteiras são hoje da exclusiva responsabilidade de alguém que governa não em Portugal, mas na Bélgica, sendo este movimento cada vez mais acelerado, mais cego nos seus atropelos e mais implacável contra quem o questione. Temos de nos aperceber que já nada pode ser feito em Portugal sem autorização superior, de que já nada servem as eleições legislativas, de que é nas eleições europeias que tudo se decide, e essas, como convém, mantém um nível abstencionista elevado, nunca sendo explicado aos cidadãos que tudo aquilo que é possível mudar no nosso país só acontecerá se Bruxelas deixar.
Criou-se na sociedade um vento de mudança que entrou até no próprio vocabulário habilmente utilizado segundo os interesses dos suspeitos do costume, que apelida todas as pequenas vitórias do centralismo europeu como um passo em frente na construção europeia e o contrário de passo atrás. Assim, facilmente se instala no subconsciente das pessoas que alguém que queira defender o que sempre foi seu, a soberania nacional, passe a ser alguém com ideias retrógradas, uma pedra na engrenagem de algo maior, abstrato que ninguém sabe o que é, apenas que é muito bom. Alguém que alerta para o facto de que quanto mais longe ficarem os centros de decisão, quanto mais gordo for o estado, quanto mais desigual for o território, mais tecnocrático ele se torna, menos humano ele fica, mais fácil será tomar uma decisão ditatorial apenas assinando uma meia dúzia de papéis, será imediatamente rotulado de nacionalista, isolacionista, até mesmo fascista.
Estamos pois, perante um movimento que já não pode parar, independentemente da vontade popular ( vimos a pressão diabólica e chantagista que a União Europeia fez com a Dinamarca e com o seu referendo à Europa), independentemente de tudo o que aconteça a nível social, politico e económico.
Esta ideia de centralismo, agora já de federalismo, sempre nos foi vendida como a melhor solução para combater os Estados Unidos e o seu poderio económico. Muito bem, então para isso não bastaria unir a Europa apenas a nível económico, como seria a ideia inicial de CEE ( Comunidade ECONOMICA Europeia) ? Claro, mas essa nunca foi a ideia dos senhores da europa, sempre esteve na mira a desintegração da identidade europeia, aquela identidade que nós tanto nos orgulhamos de ter e ridicularizamos os americanos de não ter, a pulverização de milhares de anos de história muito à semelhança da extinta Jugoslávia, para dar lugar a um novo país, um novo império à imagem do ambicionado por Carlos Magno, mas que nunca na história aconteceu, nunca na história a europa esteve unida como agora pretendem forçar estes senhores. Começar esta história toda por algo chamado CEE foi, sem dúvida, colocar em prática os ensinamentos de Maquiavel, que dizia no seu “ O Príncipe” que a forma mais fácil e rápida de um povo aceitar mudanças revolucionárias no seu modo de vida sem grandes tumultos, era a substituição dos objectivos finais de instituições queridas pelas pessoas, ou seja, todos apoiámos a CEE, ela realmente foi benéfica mas o que resta hoje em dia nos objectivos dessa organização é praticamente nada, e nós nem demos por isso.
Qual a necessidade de unir culturalmente povos tão distintos como o português do letão, o italiano do holandês ou talvez a breve prazo imagine-se o grego do turco, se apenas queremos combater o poderio económico dos EUA ? Algo não bate certo. Porventura ganhar-se-á alguma coisa com isso ? Os números dizem exactamente o contrário. Enquanto vigorava apenas o acordo aduaneiro (CEE) o crescimento económico da zona euro foi realmente encorajador, mas logo que se impôs políticas únicas de convergência para o euro, logo que se impuseram aos países até então soberanos, políticas locais decididas globalmente, o crescimento económico dessa mesma zona derrapou enormemente, deixando-se atrasar irremediavelmente em relação aos EUA. As políticas de um estado mastodôntico como será a futura federação europeia, serão cada vez mais rígidas, completamente incapazes de reagir localmente e com agilidade a factores internos e externos, pois é mais importante manter a coesão dos critérios adoptados e os planos quinquenais estabelecidos por Bruxelas, do que acudir pessoas reais que, por exemplo, durante toda a sua vida aprenderam com mestria a rentabilizar uma produção de leite, investindo tempo, dinheiro e amor no seu negócio e agora se vêm obrigadas, ou melhor, forçadas sob ameaça, a deitarem para o esgoto milhares de litros de leite bom e saudável por ordem de alguém que nunca viram nem lhe sabem o nome.
Do ponto de vista do marketing político, o federalismo está de facto bem estruturado. Acenam-nos com a cenoura de melhores condições económicas, e nós mendigamos algumas migalhas enquanto os mais fortes tomam conta de nós. Até com razões históricas nos embalam, coisa que para mim e penso que para qualquer pessoa que ainda preserve alguma sanidade mental é incomensuravelmente ridículo, criando a noção da una identidade europeia, capaz de ultrapassar pequenos atritos com centenas de anos de existência, para alcançar uma ideia de bem comum e acabar com a fome, as pestes e as guerras. Estamos infelizmente na posição do mendigo que se sujeita às piores humilhações para conseguir um pouco de pão, que lhe faz imensa falta na altura, demos tudo por dez tostões. Como não existem praticamente boas razões para caminharmos alegremente de encontro a um super-estado europeu, nem económicas nem culturais, só me restam as razões políticas para tal estar a acontecer, a assim, nem será preciso dizer mais nada, sabemos que nada acontece por acaso.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

isso e muito mais....concordo plenamente

5:47 PM  

Post a Comment

<< Home

Site 
Meter